quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Hoje, sinto...
Quase
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Nosso tempo
Eu tentei encontrar a verdade, mas nessa busca nós voamos como frágeis folhas ao vento; cada uma separadamente, seguindo suas próprias direções. O que devo dizer a mais? Agora somos estranhos em relação ao outro. Somos jovens, ou melhor, estamos amadurecendo a nossa velhice. Um dia existiu fogo dentro de nós. Naquela tarde em que exausto eu dormia e você estava lá se instalando cotidianamente na existência, e isso era tudo o que queríamos. Correr, dançar e rir com e sobre o tempo. Esse foi o nosso, e esse também é o tempo de todos: o tempo em que fazemos o tempo em que fizemos.